Uma proposta diferente e que precisa ser discutida por todos nós
Partido Pirata.BR
Por Murilo Roncolato - Estadão
Eles querem disputar as eleições e
brigar em nome da internet livre, mas antes precisam correr contra o
tempo e a falta de dinheiro para oficializar o partido
Tjack fala do Rio Grande do Sul,
Mario_Joaquim dá o recado da Bahia, Jhe impõe cariocamente suas ideias,
enquanto o Blap, do Distrito Federal, o Kurunko, de São Paulo, e um
colega anônimo do Pará rasgam um debate interminável. “Precisamos
esclarecer o fluxograma de formalização do partido”, escreve um deles.
“Mas quem vai me ajudar na Tesouraria?”, suplica a outra. “EEEI!!
Reunião encerrada! Obrigado, Piratas. Avante!” “Avante!”. Essa reunião
aconteceu via internet, na plataforma de bate-papo IRC.
Diálogos assim são comuns nas reuniões de um partido político
brasileiro. Não é bem um partido ainda, apesar de já ter nascido com a
palavra no nome, mas o Partido Pirata do Brasil, ativo desde 2007, se
articula para se registrar formalmente até outubro deste ano, para que
assim possa, com sorte, disputar as eleições municipais em 2012.O PPBr, possível futura sigla do possível futuro partido, surgiu no encalço dos demais Partidos Piratas europeus. A Suécia foi o primeiro país a ter um, com ativistas desde 2006 levantando bandeiras pela internet livre.
Hoje, partidos com a bandeira pirata estão presentes em 60 países, entre eles Cazaquistão, Nepal, Rússia, França, Estados Unidos e Peru. Na Suécia, dois piratas foram eleitos para cadeiras no parlamento da União Europeia, enquanto na Alemanha, são cerca de 40 membros do partido ocupando cargos locais.
Em quatro anos, o grupo todo se viu duas vezes (FOTO: Arquivo pessoal)
R$ 72. Por aqui, como conta a atual tesoureira do
grupo e formada em gestão de políticas públicas, Jhessica Reia, de 22
anos, o Partido tem só R$ 72 em caixa, além de bótons e camisetas,
postas a venda em uma loja virtual no site oficial do partido.Assim como Jhessica, a maioria do grupo acredita na constituição legal do PPBr como partido, mas também está ciente da dificuldade de se fundar um partido no Brasil e da distância a ser percorrida.
O jurista Paulo Rená, membro do Partido Pirata e um dos responsáveis pelo Marco Civil da Internet, é também o puxador da fila pela formalização em 2012. “Se ficar para 2014, vamos começar de cima, federal e estadual. Eu acho importante começar por baixo, política local”.
Rená, que deseja disputar cargos no Distrito Federal, diz que, para ele, o primeiro objetivo eleitoral seria conquistar cadeiras no legislativo, visando “levar o debate”.
Embora na ativa há quatro anos, os participantes se veem pouco na vida real. A distância e os baixos recursos permitiram que se encontrassem pela primeira vez em 2009, durante a Campus Party, e em 2010, no 1º encontro nacional do PPBr.
Tanta discussão virtual gera desentendimento mais facilmente, o que leva a desgastes, conta um dos primeiros ativistas do Partido, Jorge Machado, de 39 anos. O professor universitário conheceu os piratas da Alemanha e conta que por lá a coisa é bem diferente. “São mais de 13 mil filiados, há dois encontros mensais para discutir questões do partido, e um anual que reúne cerca de mil pessoas”, relata.
Aliança. Machado pontua ainda pontos positivos nos alemães e que acredita serem necessários ao Partido aqui. Para ele, é preciso “abrir a pauta” e abraçar mais temas além dos relacionados entre os princípios; ir às ruas e se articular. “É preciso buscar alianças políticas também, mas coisas pontuais, em cima de ideias. Não dá para ficar isolado”, avalia.
Jhessica, que também é pesquisadora do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV do Rio, conta que nunca houve aproximação oficial de nenhum partido brasileiro. “Nunca ofereceram ajuda e, por enquanto, não há o interesse da nossa parte também. É cada um na sua”, diz.
A agenda do grupo, ainda não votada, aposta no registro em cartório ocorrendo até 10 de julho e o encaminhamento da versão final ao TSE no dia 30 de agosto. Dessa maneira, até fins de setembro tudo estaria de acordo e os piratas já poderiam almejar cargos para 2012.
“Na Suécia, em três anos, conseguiram cadeiras no Parlamento Europeu. A gente está aqui desde 2007, se não for agora vai ser quando?”, diz Rená. Está aberta a votação.
VOTAÇÃO
Na internet, o grupo se reúne, discute e toma decisões ao estilo das assembleias estudantis, com direito a inscrições para falar e votações levantando o braço. Difícil é manter a ordem.
A pirata sueca Amelia Andersdotter falou ao Link em 2009, prestes a assumir uma cadeira no Parlamento Europeu. Por e-mail, ela se diz feliz com os piratas no mundo e decepcionada com políticos daqui. ”É bizarro. A ministra Ana de Holanda ignorou o trabalho já feito e voltou a ouvir só o setor privado”, diz ela. |
CRIANDO UM PARTIDO
Fundação | Deve-se registrar a ata de fundação assinada por, no mínimo, 101 eleitores, de ao menos nove Estados, e o estatuto e programa do partido em cartório (R$ 123) após publicá-los no Diário Oficial (R$ 30,37 por centímetro de texto).
Apoio | Criam-se diretórios em ao menos nove Estados. Neles, deve-se obter assinaturas de 0,1% do eleitorado de cada um. Os apoiadores devem totalizar, no mínimo, 0,5% do eleitorado nacional (quase 500 mil pessoas). Tudo deve ser registrado nos TREs e aprovado (ou não) pelo TSE.
Contras | O PPBr tem hoje 87 membros (em 14 Estados), R$ 72 em caixa, 30 camisetas à venda por R$ 40 – em média – e nenhuma sala comercial.
PRINCÍPIOS COMUNS A TODOS OS PARTIDOS PIRATAS
1) Defender as liberdades de expressão, comunicação e educação; respeitar a privacidade e os direitos civis
2) Defender a livre circulação de ideias, conhecimento e cultura
3) Apoiar politicamente a reforma de direitos autorais e leis sobre patentes
4) Trabalhar colaborativamente e participar com o máximo de transparência
5) Não aceitar ou defender a discriminação de raça, origem, crenças e gênero
6) Não apoiar ações que envolvam violência
7) Usar software livre e protocolos abertos sempre que possível
8) Defender politicamente construções abertas, participativas e colaborativas de políticas públicas
9) Promover solidariedade entre os piratas
10) Compartilhar sempre que possível
11)* Defesa da Inclusão Digital
12)* Descriminalização da pirataria de rua
*Princípios criados no Brasil
Mais um...
Os piratas do Brasil estão chegando
Guilherme Pavarin, de INFO OnlineSegunda-feira, 05 de outubro de 2009 - 15h25
Jorge
Machado e Guilherme Bellia, do Partido Pirata: dupla explica as
propostas da agremiação que foca na internet e na política colaborativa
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Inspirado nos moldes europeus, a versão 'pirateada' nacional já escreve seu estatuto e pretende lançar os primeiros candidatos nas eleições de 2012.
Até lá, o Partido Pirata do Brasil quer divulgar sua forma aberta e colaborativa de fazer política. Uma nova proposta, nos moldes "wiki", que permite que qualquer interessado contribua ideologicamente com o partido pela internet.
Sem qualquer sinal de hierarquia partidária, os membros Jorge Machado, sociólogo e professor universitário, e Guilherme Bellia, estudante de comunicação, concederam uma entrevista a INFO Online para contar sobre a história e os princípios do partido.
Confira o bate-papo logo abaixo.
INFO ONLINE: Como se deu a ideia de fundar o Partido Pirata do Brasil?
JORGE MACHADO: O Partido Pirata do Brasil, o embrião dele, digamos assim, surgiu no Fórum do Partido Pirata Internacional. Foi um fórum e um site criados pelos suecos, em 2006, devido ao interesse internacional, principalmente dos europeus. Começamos a discutir entre o final de 2006 e o começo de 2007 num fórum só para o Brasil. Isso tudo por meio da internet. O primeiro site nós criamos no fim de 2007, mas ele só se estruturou de verdade a partir do primeiro encontro presencial no Campus Party de 2009, quando o criamos um vínculo mais forte.
INFO ONLINE: Qual o objetivo de um Pirata na política?
JORGE MACHADO: Tem um núcleo que é uma pauta comum entre todos os Partidos Piratas, que é a questão de direitos civis, entre eles, o mais importante é a liberdade de expressão e o direito a privacidade. Defendemos o compartilhamento da cultura e do conhecimento, o que demanda uma reforma nas leis de direitos autorais. Também queremos rediscutir o sistema de patentes. Além da transparência política, que todos os Partidos Piratas discutem.
GUILHERME BELLIA: A questão de privacidade tem se tornado cada vez mais importante devido a certo movimento que está começando a aparecer e já está se consolidando em alguns países de restringir cada vez mais os direitos de anonimato dos internautas com justificativas duvidosas, como coibir crimes e etc. Uma das importâncias do Partido Pirata é ir contra essa tendência governamental de tirar a liberdade, de um direito humano.
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