Dilma decide tirar Jobim do Ministério da Defesa
Nova declaração com críticas ao governo da presidente foi decisiva para a decisão; dessa vez, alvo foi Ideli Salvati, que seria 'fraquinha' na articulação política
04 de agosto de 2011 | 9h 48
João Domingos e Rui Nogueira, de O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff decidiu na manhã desta quinta-feira, 4, demitir Nelson Jobim do Ministério da Defesa. Em uma entrevista à revista Piauí, Jobim chama o governo Dilma de "atrapalhado", diz que a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvati, é "fraquinha", e que Gleisi Hoffmann, ministra-chefe da Casa Civil, "não conhece Brasília". Um dos nomes cotados para substituí-lo é o do atual ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo.André Dusek/AE - 02.08.2011
Declarações recentes de Jobim (à dir.) teriam irritado a presidente Dilma
O ministro viajou na noite desta quarta-feira, 3, para São Gabriel da Cachoeira (AM). Nesta manhã, ele partiu para Tabatinga (AM), onde, ao lado do vice-presidente da República, Michel Temer, assina um plano de vigilância de fronteiras entre Brasil e Colômbia. Pela agenda oficial, Jobim deixa a base do Cachimbo (AM) às 20h30, devendo chegar a Brasília no final do dia.
Em recente entrevista concedida ao programa "Poder e Política", da Folha de S. Paulo e UOL, Jobim criou incomodo no Planalto ao fazer questão de revelar que, nas eleições do ano passado, votou no candidato tucano José Serra, o adversário da candidata vencedora, Dilma Rousseff.
Por conta dessas declarações, houve pressão política para demitir o ministro, mas Dilma preferiu evitar a crise e, como apurou o Estado na manhã desta quinta-feira, a intenção era, ao menos, esperar que Jobim tocasse até ao fim o projeto de aprovação, no Congresso, da criação da Comissão da Verdade - um projeto para o qual a presidente da República, até por ser ex-presa política, que foi torturada no regime militar (1964-1985), pediu empenho especial. A comissão vai tomar depoimentos que ajudem a esclarecer as condições de repressão no período e, principalmente, ajudem a chegar ao paradeiro de corpos de presos políticos que desapareceram em meio à repressão e até hoje não foram localizadas (caso da guerrilha do Araguaia, nos anos 70).
Nessa quarta, Jobim teve uma audiência com a presidente Dilma, na qual, segudo apurou o Estado, ele a informou sobre o conteúdo da entrevista à Piauí, inclusive sobre as críticas feitas a colegas do ministério. Dilma escolheu pessoalmente as ministras Ideli e Gleisi, depois da queda de Antonio Palocci do comando da Casa Civil, no início de junho.
Publicado em 02 de julho de 2011
''Idiotas'' de Jobim irrita Dilma, mas é abafado
Uso de expressão em homenagem a FHC causa mal-estar; para evitar mais uma crise, presidente escala novo líder para amenizar fala de ministro
Tânia Monteiro - O Estado de S.Paulo
A presidente Dilma Rousseff não gostou do discurso do ministro da Defesa, Nelson Jobim, na solenidade de 80 anos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, quinta-feira no Senado, mas decidiu não transformar o assunto em uma crise institucional. Segundo assessores, optou por fazer "ouvidos de mercador".
Celso Junior/AE
Improviso. Jobim citou Nelson Rodrigues em discurso 'desastroso'
Apesar dos desmentidos de que tenha chamado pessoas do atual governo de "idiotas", Jobim causou mal-estar no Palácio do Planalto. A declaração foi considerada "desastrosa" por auxiliares diretos de Dilma. "Ele criou um ambiente que não existia, sem a menor necessidade", disse um assessor. A própria presidente teria considerado "desnecessária" a observação de Jobim, que causou "perplexidade" no governo.
Ainda de acordo com interlocutores de Dilma, Jobim "levantou a bola" para todos os seus adversários, particularmente os do PT, o atacarem. Além disso, disseram, ele tem dois assuntos bombásticos na mão - Comissão da Verdade e sigilo dos documentos oficiais.
Ontem, o ministro minimizou as declarações. Ao Estado contou que ao chegar ao Palácio da Alvorada, onde tinha um despacho às 11 horas com a presidente, ela o recebeu brincando. "Ô Nelson, estão querendo nos intrigar", disse a presidente, de acordo com relato do próprio ministro, que negou que suas afirmações tenham qualquer tipo de relação com o governo. "Não sabem ler", desabafou Jobim, explicando que se referia a "alguns jornalistas que escrevem para o esquecimento". "Eu me referia a um texto do escritor argentino Jorge Luis Borges", argumentou, completando que quem escreve para a memória e para a história são os escritores.
Percepção. De acordo com Jobim, Dilma afirmou a ele que "percebeu logo" que era uma citação que ele já havia feito anteriormente. O ministro informou a presidente ainda que ia procurar jornalistas para esclarecer o episódio e encerrá-lo. "Estão procurando chifre em cabeça de burro", argumentou o ministro, que embarcou à tarde para Londres, onde participará de reuniões com o ministro da Defesa inglês.
O deputado Mendes Ribeiro Filho (PMDB-RS), que assumiu ontem a liderança do governo no Congresso, também minimizou o episódio e a fala de Jobim com a palavra "idiota".
"Não foi recado para o governo. O ministro Jobim é muito inteligente", afirmou o novo líder, ao comentar o discurso do ministro da Defesa.
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